O tratamento noticioso dado à tragédia do furacão Katrina já começa a ser apropriado à dimensão do acontecimento, depois de alguns dias de notícias de rodapé e peças de três minutos em telejornais. Isto em Portugal, claro. Diferença abissal em relação ao
tsunami que também foi notícia há uns meses atrás, como é realçado
aqui. Na blogosfera, nota-se igualmente uma aproximação diferente dos blogues em geral, com algumas honrosas excepções. Recordo a quantidade de posts publicados na altura, o
body count que foi feito, as reflexões metafísicas que se seguiram. Com especial destaque na blogosfera de esquerda, principalmente
aqui e
aqui. O que tenho lido ultimamente deixa-me intrigado. Piadas de mau gosto com o nome Katrina envolvido (principalmente nos blogues de direita), curtíssimas notas para preencher a agenda blogueira, alguma reflexão sobre aspectos secundários da tragédia. Não quero pensar nas razões deste silêncio parcial, e muito menos referir de passagem o pormenor do desastre humanitário estar a acontecer nos E.U.A. Aliás, achei curiosa a insistência dos diversos telejornais na contestação de que Bush já está a ser alvo e na ineficácia dos socorros prestados à população depois da tragédia. Outro aspecto referido é o contraste entre o poder económico da América e a impotência das autoridades na resolução do problema humanitário. Fernando Nobre, o representante da AMI em Portugal, várias vezes disse que os E.U.A. não precisavam da ajuda do organismo a que preside. E chegámos ao cúmulo de ver Hugo Chavéz tirando demagogicamente partido da incompetência americana, oferecendo ajuda ao todo-poderoso inimigo. Anti-americanismo é um termo que aqui não vou referir. Não nesta ocasião, quando todos devíamos ser americanos.
Adenda 1:
Interessante post este, sobre outro pormenor a que temos assistido. A maior parte dos que ficaram são de etnia negra ou latina, os brancos conseguiram fugir a tempo. Sintoma da profunda desigualdade que (ainda) existe nos E.U.A., acentuada em situações-limite como esta. O racismo ainda não foi abolido, 40 anos depois dos movimentos pelos direitos civis?
Adenda 2: A
Pacheco Pereira não escapou o sectarismo do noticiário da tarde da RTP 1. Era a isto que eu me referia.
Adenda 3: Afinal, depois de uma revista a vários blogues, vejo que a blogosfera de esquerda acordou. Com acento nas críticas ao presidente Bush. Nada mudou, portanto.