Tábua Rasa #10
Arquivado terça-feira, novembro 29, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post 
Fernando Pessoa, fingindo ser Bernardo Soares, Livro do Desassossego
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"Repudiei sempre que me compreendessem. Ser compreendido é prostituir-se. Prefiro ser tomado a sério como o que não sou, ignorado humanamente, com decência e naturalidade.
Nada poderia indignar-me tanto como se no escritório me estranhassem. Quero gozar comigo a ironia de me não estranharem. Quero o cilício de não me julgarem igual a eles. Quero a crucifixão de me não distinguirem. Há martírios mais subtis que aqueles que se registam dos santos e eremitas. Há suplícios da inteligência como os há do corpo e do desejo. E desses, como dos outros suplícios, há uma volúpia."
(Nota: a edição que tenho em casa do Livro do Desassossego, amarela, gasta, de bolso, da Europa-América, existe desde a adolescência, resisto a comprar a edição mais recente da Assírio e Alvim. Enquanto objecto, o livro também me merece consideração, por isso desprezo as edições baratas e sem gosto da Europa-América. Neste caso, uma excepção que se entende. A preservação da memória não se compadece de razões estéticas.)