Tudo o que vale a pena não está aqui.



Narciso


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A região blogosférica passa neste momento por um período de desmesurada alegria em virtude das recentes adesões de gente que, à partida, pouco teria a ver com o mundo hedonista e frustrado em que julgamos viver. Figuras que estavam do outro lado da barricada, que inclusive faziam gala desse facto, converterem-se de um dia para o outro em disciplinados seguidores do admirável mundo (que não é assim tão) novo dos blogues. Percebe-se a motivação, entendem-se as razões, mesmo aquelas que abertamente não são confessadas No fundo, tudo não passa de uma transformação do espaço mediático a que cada cidadão tem direito. Isto é, aqueles que agora se transferem do espaço dos jornais para a blogosfera, deram-se conta das potencialidades sem regras que um blogue apresenta à partida. Depois de Pacheco Pereira e mais uns quantos jornalistas sem espaço de comentário no jornal onde trabalham, seria uma questão de tempo até vermos as nossas cabeças pensantes debitarem as suas opiniões libertos dos constrangimentos de um limite de palavras, de tempo, de consciência. Dado o carácter diarístico de um blogue, tudo é permitido, ou quase. É possível fulanizar críticas, personalizar opiniões, enriquecer textos com a experiência na primeira pessoa de determinadas situações, recorrer à escrita intimista e exibir o ego que, de modo discreto, sempre está presente em qualquer artigo de opinião ou comentário televisivo. Quando Vasco Pulido Valente fala abertamente da sua experiência enquanto deputado, confirmamos as suspeitas que já tinhamos ao ler as sessões de fustigamento da classe política que o tornaram admirado por meio mundo, da esquerda à direita. Neste caso específico, Vasco Pulido Valente (VPV) é, no fundo, a consciência da alma portuguesa, e escrevo isto sabendo que incorro num exagero estilístico. Mas a verdade é que o instinto auto-destrutivo, mal-dizente, o desejo tão português de criticar por criticar, deitar abaixo sem apontar caminhos, destruir sem planificar algo a construir no lugar de, se evidencia em plenitude nos textos verrinosos de VPV, legítimo herdeiro de um Eça que continua a fazer todo o sentido mais de cem anos depois. É uma questão de identificação, portanto, a admiração incontida que muitos portugueses (e escrevo esta palavra no seu devido contexto) dedicam ao cronista agora tornado blogger. Será uma questão de tempo até vermos todos os comentadores da pátria abrirem a sua tascazinha privada virtual, assentarem arraiais por aqui e contradizerem o que os teorizadores do fenómeno têm repetido até à exaustão - o carácter de alternativa aos media tradicionais, um espaço de liberdade quase absoluta onde a opinião de cada um estaria acessível a todos, e onde cada blogue se constituísse como um nó de uma vasta rede de comunicações, perfeitamente democrática e igualitária, como Gilles Deleuze preconizou em tempos a propósito da Internet como um todo. Um dos mais comus erros que enferma qualquer julgamento ou previsão, no entanto, é a infinita confiança que o teórico deposita na bondade do Homem. Mas, como cínico que sou, apenas estou a ver repetidos na Internet em geral e na blogosfera em particular os mesmos vícios e a mesma "vontade de poder" que rege o espaço público e mediático lá fora. E quem acaba por exercer o poder de opinião, quem acaba por influenciar o público leitor, são sempre os mesmos. Se eu fosse um conservador, diria que essa é a ordem natural das coisas, e que a razão do sucedido tem exclusivamente a ver como o mérito de cada indivíduo. Como sou apenas um pessimista abnegado, desconfio que a perpetuação dos mecanismos de dominação é umas das características intrínsecas e imutáveis da natureza humana, e Voltaire não é para aqui chamado. Não percebo portanto a alegria de tantos bloggers, ou não quero perceber, e apenas compreendo a proliferação de links para o blogue de VPV (e de Constança Cunha e Sá, não esquecer) pelas razões expostas pelo maradona, incluindo as boas. E sim, também eu linkarei o espectro, mas não neste post. Apenas porque não me apetece andar a visitar o sítio a partir de outros blogues. O prazer puramente estético que retiro da leitura dos textos de VPV ajuda-me a esquecer tudo o que escrevi antes.


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