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Director's Cut #16


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Match Point, de Woody Allen Mau grado as cenas de sexo constrangedoras (a culpa é do inverosímil garanhão Johnathan Rhys-Meyers), Scarlett Johansson brilha em Match Point. O filme é dela, quase que consegue fazer esquecer os defeitos óbvios da obra. Não partilho a devoção da maior parte dos críticos, quem sabe se resultado do entusiamo provocado pela mudança de ares do cineasta americano; ainda não foi desta que Woody Allen regressou aos grandes filmes. E porquê? O passo que Allen tenta dar, fugindo a Nova Iorque e aos ambientes que lhe conferiram a marca autoral, é maior que a perna. O filme respira um desconforto evidente na captação da britishness, do tom de série da BBC (que, de resto, produz o filme) que pretende imitar. Não sei se seria essa a intenção de Woody Allen, se ele se sentiu obrigado a filmar Inglaterra como se fosse um inglês, esquecendo a sua origem nova-iorquina. Seja como for, não conseguiu atingir esse almejado âmago do espírito inglês. (Patrice Chéreau, outro estrangeiro a filmar em Inglaterra, conseguiu estar muito perto em Intimidade). A pomposidade artificial do filme é, em última análise, provinciana. O uso da ópera em vez do jazz como banda-sonora é a prova da artificialidade de "Match Point". Assim como o são as referências pouco subtis a "Crime e Castigo", de Dostoievsky, e a Strindberg. O primeiro inspirou o enredo, o segundo a direcção de actores e os diálogos. Não era necessário vincar este ponto, todavia.
O problema é que os filmes mais fracos de Allen são aqueles onde ele ensaia uma aproximação aos seus cineastas de eleição, Bergman à cabeça. Interiores e Setembro, tentativas apenas admiráveis pela demonstração de amor pela obra de Ingmar Bergman, são obras deslocadas, anómalas, e isto acontece porque o tom certo de Woody Allen parece-me ser, precisamente, o da comédia de costumes. "Manhattan", que revi há pouco tempo, é o exemplo perfeito da arte do realizador judeu; a leveza aparente, a homenagem à paisagem urbana, os diálogos ácidos e auto-irónicos em ritmo de comédia screwball e um final angustiante, absolutamente triste que, num segundo, muda todo o tom do filme. Arte maior, da ordem do sublime.
Woody Allen não tem de se envergonhar de não fazer filmes como Ingmar Bergman, mas por vezes é isso que parece acontecer. A grandiloquência operática de "Match Point" é um castelo de cartas quase sempre no limite da sustentação, apenas mantido de pé com a ajuda de alguns dos actores secundários, os diálogos convincentes e a densidade conferida à personagem de Chris, o assassino acidental com laivos de Raskolnikov de raqueta (e caçadeira) na mão. Pena o casting equívoco de Jonathan Rhys-Meyers, pouco afirmativo no papel de Ripley heterossexual que quase deita tudo a perder por causa de um rabo-de-saias. O desejo que emana de Scarlett Johansson não tem correspondente na frieza britânica e desconjuntada, quase efeminada, de Rhys-Meyers. Por isso é que a sequència do primeiro encontro de Chris e Nola se evidencia de forma tão desajustada: a atitude predadora de Rhys-Meyers surge como antítese do ar lamuriento que ele passeia durante o resto do filme. No todo, um filme falhado. À espera da próxima experiência de Woody Allen no continente europeu.


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