Tudo o que vale a pena não está aqui.



O coelho no prado


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E antes que comece a soar como a Laurinda Alves, alguém me saberá dizer o que foi aquela crónica do Eduardo Prado Coelho, no último "Mil Folhas", de sábado passado? Balanço, enumeração arbitrária ou selecção simples após cuidadoso atirar ao ar de uns quantos papelinhos com títulos de livros publicados no último ano em Portugal? Quem leu sabe do que falo, e como não posso ter acesso aos conteúdos do Público, deixo aqui um link que mais sintético e certeiro não pode ser.

Adenda: o texto de que falo na íntegra (só para quem tiver paciência) cortesia de um neo-blogger, que por aqui escreve:

Odeio fazer balanços. Adoro ler. Odeio porque me esqueço sempre do óbvio - do livro que caiu e ficou debaixo do sofá, da revista que emprestei, daquela obra que se esgueirou para o fundo das estantes. Mas avancemos.

O ano editorial foi bom. Surgiram novas editoras, e as que já existiam, e se tinham afirmado como importantes, mantiveram um bom ritmo de publicações. Houve diversos "best-sellers": José Saramago, que bateu todos os "records" de vendas, António Lobo Antunes, com uma correspondência de grande interesse e autenticidade, Miguel Sousa Tavares, com literatura para crianças, ou Filomena Mónica, com literatura para adultos com algumas reservas. E ainda inesperadamente José Gil.
Saramago propôs um dos seus melhores livros, com mais uma alegoria, mas uma alegoria densa e indecifrável como tudo o que diz respeito à morte. Quanto a Lobo Antunes, deu-nos um dos seus livros menos formais e mais contagiantes: as cartas que trocou com a mulher, cartas da frente de combate, reunidas pelas filhas: "D"este Viver aqui Neste Papel Descripto". Feita ainda em 2004, a excelente "Fotobiografia" de Lobo Antunes elaborada por Tereza Coelho, ajuda imenso a contextualizar. A televisão contribui para a promoção de um autor interessante: Rodrigo Guedes de Carvalho, com "A Casa Quieta". Júlio Moreira lançou uma obra insólita: "Notícias do Labirinto".
Mas gostaria de indicar alguns romances menos badalados: "Doidos e Amantes", o mais sexualizado dos livros de Agustina Bessa-Luís, e, como sempre, admirável; "O Quadrado" de Manuel Alegre, que deu origem a interpretações circunstanciais frequentes e mesmo a um espécie de metáfora; o sempre perturbante, desconcertante e extraordinário Gonçalo M. Tavares: "Jerusalém" tornou-se acessível a todos os públicos, e é um dos grandes romances do início deste século; mas, a par disso, tivemos também os inclassificáveis "O Senhor Calvino" e "O Senhor Kraus"; e tivemos ainda as "Histórias Falsas". Gonçalo M. Tavares continua a escrever mais depressa do que os leitores são capazes de ler. Este ano foi ainda o da consagração de uma das revelações mais interessantes da nossa literatura: Dulce Maria Cardoso. Publicou "Os Meus Sentimentos" com uma capa que ofende o bom senso. Tivemos, entre a reflexão poética e a narrativa abstracta, "Os Contos da Imagem" de Fiama Hasse Pais Brandão. Assinalemos, de passagem, que no Brasil, no âmbito da cátedra Jorge de Sena e para a revista "Metamorfoses", Jorge Fernandes da Silveira reuniu a melhor colecção de textos sobre a Fiama. Atravesse o Atlântico e vá buscar. Mas em Portugal tem a chancela da Caminho, o que é meio caminho andado. Assinalemos ainda um dos melhores romances recentes de Urbano Tavares Rodrigues: "O Eterno Efémero". E podemos ainda referir dois livros de Luiz Pacheco, que, se não existissem, não se perdia nada.
Gostaria de referir três gostos secretos e no entanto essenciais: gosto muito de Julieta Monginho, que publica sem a devida repercussão "A Construção da Noite". Gosto também muito de Ana Teresa Pereira: falei aqui mesmo do seu magnífico livro de crónicas intitulado "O Sentido da Neve". Tenho para ler o recente "O Mar de Gelo". E para terminar "Bastardia", de Hélia Correia.
É óbvio que um dos livros importantes deste ano é o terceiro tomo da biografia de Álvaro Cunhal, de José Pacheco Pereira. Também Joaquim Aguiar nos deu uma reunião dos seus textos ácidos e lúcidos, a discutir seriamente. E Fernando Pereira Marques evocou com emoção e dimensões autobiográficas os tempos de Maio de 68.
Mas antes de passarmos para o domínio do ensaio português, temos de considerar a poesia. Eu colocaria entre os livros mais importantes "Sol a Sol" de Armando da Silva Carvalho. Mas importa referir muitas outras coisas. Nuno Júdice deu-nos uma obra de grande qualidade, "Geometria Variável" e compôs com Duarte Belo um livro sobre a obscura realidade algarvia: "Geografia do Caos". Jaime Rocha regressou com mais um magnífico livro de poesia, "Lacrimatória". Jorge Gomes Miranda colocou-se na dimensão mais lírica com "Requiem". Manuel de Freitas deu-nos vários pequenos livros, de qualidade irregular, mas sempre dignos de atenção. Fernando Luís Sampaio regressou com "Falsa Partida". Rui Coias confirma qualidades com "A Ordem do Mundo". José Miguel Silva utiliza excelentemente o cinema com "Movimentos no Escuro". Estreia prometedora de Graça Videira Lopes com "Paisagens e outros Lugares a Discutir". Uma antologia de Gastão Cruz, com surpreendentes leituras de Luís Miguel Cintra, dá-nos um áudio-livro exemplar. Ana Luísa Amaral reúne, num impressionante volume, a sua obra poética. Os livros de poesia mais recente são estudados com inteligência por Luís Carmelo em "A Novíssima poesia Portuguesa e a Expressão Estética Contemporânea". Quanto a alguma ficção contemporânea, ela é estudada, em termos de literatura comparada, por Helena Buescu em "Cristalizações. Fronteiras da Modernidade".
Passemos agora para o campo mais ensaístico. José Gil deu-nos com "Sem Título" uma estimulante reflexão estética e análises absolutamente deslumbrantes da arte dos nossos dias. O tema central é Jorge Martins. O BPI dedicou-lhe um álbum de grande qualidade - quer pelas reproducões da obra de Jorge Martins, quer pelos textos críticos nele incluídos. Livro inteligentíssimo e tocante, feito de intervenções dispersas mas sempre coerentes, e de entrevistas de uma subjectividade comovedora, foi o "Acentos", de Fernando Gil - estranha-se o silêncio da comunidade filosófica. Acrescente-se sobre Schumann e outros autores, em colaboração com Mário Vieira de Carvalho, "A 4 mãos". Na sempre excelente Vendaval, surgiu o notável estudo sobre o estatuto da literatura e o seu valor por Silvina Rodrigues Lopes, "A Anomalia Poética". Anuncia-se de Filomena Molder "O Absoluto que Pertence à Terra" (que ainda não recebi, mas aguardo com ansiedade). Eduardo Lourenço avança na reunião dos seus textos com "A Morte de Colombo. Metamosfose e Fim do Ocidente". Dois textos fulcrais de e sobre Jacques Derrida: a sua derradeira entrevista, "Aprender Finalmente a Viver" (na Ariadne) e o colóquio sobre a soberania: "Derrida em Coimbra", numa cooordenação notável de Fernanda Bernardo (Palimage).
Chamemos a atenção para os ensaios de João Lobo Antunes, "Sobre a Mão e Outros Escritos". António Mega Ferreira persegue o "outro lado" de Pessoa: "Fazer pela Vida". Na Minerva, alguém cuja tese orientei, Maria Amélia Faia, publicou "O Eu Construído. Identidade pessoal e consciência de si". O seu desaparecimento deixou-nos a todos consternados. José Augusto Mourão desenvolve "O Mundo e os Modos de Comunicação" - por vezes difícil, sempre compensador. Passou sem ecos um pequeno texto utilíssimo de Mário Murteira sobre a "Economia do Conhecimento". João Barrento publicou outro texto breve: "Ler o que não Foi Escrito". Nuno Júdice reuniu ensaios em "A Viagem das Palavras". Tito Cardoso e Cunha analisa as diversas dimensões da retórica em "A Razão Provisória". Fernando Guerreiro publica ensaios deliberadamente marginais, "Italian Shoes". Obra importante é o colóquio internacional sobre "Estética e Artes", organizado por Isabel Matos Dias para o Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. António Costa Pinto coordenou um imprescindível "Portugal Contemporâneo". Jean-Ives Lourde deu-nos uma outra imagem de Lisboa com um vago fio ficcional: "Lisboa na Cidade Negra". O crítico de arte Carlos Vidal deu-nos o primeiro ensaio sobre a obra fundamental de Alain Badiou: "Sombras Irredutíveis". E gostaria de assinalar a importância de algumas revistas: "Intervalo". "Telhados de Vidro", "Nada" e "Revista de Comunicação e Linguagens".
Muito rapidamente, entremos no domínio das traduções. Temos o trabalho assinalável em relação aos textos clássicos de Frederico Lourenço, e as traduções de Cavafis, Mallarmé e Ezra Pound. Gostaria de me regozijar com o aparecimento em português de Wallace Stevens. Quanto à ficção, registo apenas os meus favoritos: Philip Roth, Iris Murdoch e Vila-Matas.
É tudo? Não.



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