Tudo o que vale a pena não está aqui.



Abelhas


E-mail this post



Remember me (?)



All personal information that you provide here will be governed by the Privacy Policy of Blogger.com. More...



Não o podia saber, nem que o desejasse,
A sua filha lhe disse que colocara
O vaso de água em cima da mesa,
E ele não o poderia saber, nem
Se preferisse trocar uma vida de clandestinidade
Pelo calor das tardes adormecidas ao som
Das abelhas cirandando em redor das azeitonas,
Pico do verão em corrente contínua,
Os braços envolvendo numa tensão de espera
Os dois miúdos mais pequenos,
No vai-e-vem das correrias a caminho
Do riacho ao fundo do quintal,
No limite do brejo que se abre para as montanhas.

Não o adivinhou, e o prelúdio para
O momento em que a canga da história
Lhe caiu sobre os ombros bem poderia ser
O fraterno abraço que o seu irmão de armas
Lhe ofereceu na sombra da mesquita,
Um oportuno adeus que pedia brevidade
E que quase se emendava no passo que se seguiu;
Ele voltou para trás, e o amigo mentiu.

Não queria saber se lhe quisessem contar,
Negaria três vezes a dádiva, homens assim
Recusam a si próprios o direito de traição.
Nem que o chão de pedra se encharcasse de sangue
E vinagre, nem que os céus se enegrecessem
E desabassem sobre a terra, nem que
A luz por um instante apenas se ocultasse
Na densa penumbra que protege o coração
Das avassaladoras investidas da paixão.

E porém a água
Reflectindo o rosto da menina.
Ao sair de casa, dobrou a esquina
Recordando o passo dado enquanto
Empurrava o portão, os olhos
Debruados no vestido de flores
Enfunado pelo vento rápido
Que se levantara. A água
Dançando na pele escura da menina,
O seu corpo contra o sopro da bomba,
A mão fechando o portão, e ele não o desejava saber,
Calara a frase do amigo. Sumia-se no vasto domínio

Das areias, uma campa rasa através das oliveiras.

1/2


Rascunhos

Arquivos

Outros Lugares



eXTReMe Tracker