Tudo o que vale a pena não está aqui.



Boris Vian


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Ouve-se, repetindo o seu compasso,
o mundo e as estrelas que abanam
os altos telhados, as aves de verão
soluçando nos fios, tremendo sobre a metáfora
em que morrem, decepadas pelos cabos de alta tensão.
A realidade, ferida como um cervo,
parte para os montes, procurando
vícios e inconfessos desejos,
provar-se-á desta vez a gravidade da vida?

Todos os dias, um bulício
esquecendo os dias, uma equação com a solução errada
preparando os homens para a morte,
entortando a velhice, um caule que reverbera
no caudal da noite, uma febre que arde nos
jardins. Os vivos arrastam-se para uma vala longínqua,
os mortos esperam-nos jogando às cartas
sob os plátanos apodrecidos.

Gigantescas chaminés expulsam o cansaço
dos braços, destruindo os nenúfares
que bordejam as auto-estradas; ainda assim posso
apostar que existe uma razão para tal ordem
de coisas. Persisto na mentira.


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