Tudo o que vale a pena não está aqui.



Espelho


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...por certo, disse, a semelhança não era assim tão decisiva. Se olhasse com atenção desmedida, veria, e saberia do que estou a falar. Pois se um tinha o rosto de quem não poderia conhecer por completo o coração do outro, o outro ninguém diria que soubesse em que dias o primeiro estaria disposto a mostrar o coração aberto, como se fosse um relâmpago desprovido de som ou um tronco de eucalipto rasgado pela lâmina de um machado. Era como se não tivessem crescido juntos, na mesma casa, nem tivessem alguma vez brincado dentro do roupeiro no quarto da mãe, fingindo serem outros que não eles, ou então trocando os papéis, o primeiro imitava os gestos e a atitude do segundo, este mimoseava o outro como um espelho perfeito e invertido, como uma imagem antes de ser convertida pelo olho humano. No escuro escondidos, viam filmes mudos. Homens tropeçando, correndo, caindo, fugindo de invisíveis sombras, estaladas, apertões, malabarismos elásticos, bonecos de borracha sofrendo no corpo a poderosa intervenção do espaço, um torniquete que torcia cada osso e cada músculo, com o fim simples da contemplação pura. Não poderiam pensar de outra maneira. A semelhança não seria assim tão decisiva. Mas quando adormeciam no escuro das imagens rodando num tempo fora daquele espaço apertado, imitavam em sonhos o rosto um do outro. Havia no passado o mesmo corpo, o mesmo sangue, a mesma audaciosa vontade de ser.


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