Tudo o que vale a pena não está aqui.



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A dois ou três passos apenas;
Não se pode dizer as coisas em voz
Alta, o limite de uma casa
Cala qualquer nervo ou explicação
Que o dia traga. A dois ou três passos,
Que é como quem diz na circunferência
Que rodeia o ponto escolhido
Para expor o coração,
Naquele canto que a sombra projectada
Do limoeiro cobre, perto
Da terra onde me lembrava de ter escondido
O pão que recusara sem vergonha.

Cercada pelas silvas, brilha
Como se as manchas do casaco
Sustivessem o tempo desde o fundo
Do quintal onde o musgo
Cresce, alastrando sobre a infância
De forma voraz e sublime,
A um metro apenas, se ela me ouvisse
No rodopio de vozes que
Percorre as divisões da casa,

A avó, o avô, falecidos
Que por momentos vivem na boca
Dos mortos, histórias
De espectros tão nítidos como a profunda
Tessitura que une a pele ao arame que sobe
Desde o muro até ao imaginado sonho
De um verão pleno de imagens retirando-se
Desde
Um tempo que se imagina objecto -
A semelhança do corpo com a palavra que
O descreve.

E ela a dois passos, sempre dois passos à frente
Recusando ouvir o que lhe digo,
É assim como lhe digo, é assim -
Repouso desde sempre no enlevo
Perdido e frio dos seus braços que procuro esquecer, e olho
O pai de frente e reconheço-o
Do centro, do fole do pulmão
À pele, um espelho de luz contra o
Tecido seco do tempo. Queria
Tanto dormir encostado ao silêncio do que não vivi.


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