Esboço
Arquivado terça-feira, novembro 30, 2004 por Sérgio Lavos | E-mail this post
O que mais impressiona no filme Antes do Anoitecer, que finalmente consegui digerir, é a sensação de transitoriedade das coisas; o definitivo é uma ideia que se perde do primeiro filme, a certeza dos acontecimentos também. O que diz este filme é que existe um tempo para entender que não há nada, nem ninguém, na vida, que responda absolutamente à questão fundamental: porquê? E isto será precisamente a passagem para a vida adulta. Posso falar em idealismo, mas não é bem isso. Celine e Jesse continuam, de certo modo, idealistas. Ainda esperam que a felicidade aconteça, e que aconteça através do amor. Mas o idealismo irrealista de Antes do Amanhecer foi substituído pelo romantismo desencantado do segundo filme. Há uma melancolia que se passeia por Paris, que os acompanha. É a melancolia da idade perdida, do tempo que passou e (infelizmente?) ficou. A conclusão a que se chega? Aos trinta, como só os trintões sabem, o sexo deixa de ser a concretização do amor para passar a ser um fim em si mesmo. Lugar-comum, é verdade, mas é assim a vida. Quando existe a percepção de que a pergunta fundamental nunca será respondida, o melhor será o abandono aos prazeres do quotidiano, ao mergulho irracional no mundo imediato dos sentidos. Desencanto, como referi antes? Não, apenas lucidez, realismo.