Tudo o que vale a pena não está aqui.



O tigre Borges (2)


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Como definiam a leveza dos passos pela casa, a discreta presença traçada nas paredes, nos retratos, nos espelhos? A imagem que ele desenhava era apagada no momento seguinte, o seu corpo apenas existia depois do vulto desaparecer, era uma ideia do que restava, os tratadores apenas podiam tentar adivinhar o rasto invisível que deixava. E tudo era mais sumido ainda quando a tristeza o feria. Uma linha azul, uma marca líquida derretendo a neve, um fio de lume brando evocando o degelo. Os tratadores teciam conjecturas durante estes períodos de apagamento, falavam entre si sobre as razões das mudanças repentinas, arriscavam procurar nos corredores mais escuros da casa aquela sombra viva que desaparecia. Eles sabiam que ele não conseguia compreender parte da casa, mas entre cada episódio de desvanecimento convenciam-se de que a fraqueza era superada, e que tudo o que era obscuro fora, de algum modo, iluminado. Esta confiança não era imerecida. O tigre lutava, com todas as forças que podia, para desvendar o segredo inacessível da casa. Mas nunca conseguira chegar perto. No entanto, não era a impotência que o transportava à morada melancólica do silêncio. Era algo mais profundo, inexplicável.


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