Tudo o que vale a pena não está aqui.



O tigre Borges (4)


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O espaço onde a melancolia respirava. Longe, longe de toda a luz, do olhar vigilante dos tratadores, bem escondido da curiosidade dos visitantes ocasionais, o lugar onde a morte não entrava: a biblioteca. Ele, o tigre, era o único que conhecia o segredo. Em tempos, perdera-se. Uma viagem que desembocara no vazio, um corredor fechado no silêncio escuro da casa. Apenas uma ténue sombra de claridade, um vestígio que rasgava o denso vazio de séculos. Hesitou, naquele momento. O coração sobressaltou-se mais ainda. Parecia partir do seu peito. Olhou o pêlo, temeu o fim de tudo. Que ele não era imortal, sabia-o bem. Quando deu um passo em frente, recuou, no mesmo impulso. Intuía naquela luz um prodígio. Porém, a coragem parecia abandoná-lo. Esforçou-se. Pensou na floresta, nos seus labirintos ameaçadores. Em todos os perigos que rondavam o seu tempo da infância. O estremecimento que sentia quando deixava de avistar sua mãe, a desorientação quando alguma folhagem mais tenaz aparecia ao caminho. Puro terror momentâneo. Um momento esticando seu corpo ao sol, espreguiçando-se.
Mas acabou por avançar, alguém o esperava.


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