São como restos, atirados pelos outros dias. Os momentos atrapalham-se, atropelam-se, ou então arrastam-se, vagarosos, movendo-se pelas mãos e pelos braços, sedimentam o aço nos ossos, atribuem um peso desmedido ao corpo. Sempre foi assim, e as tardes são o fim de tudo. Nem um livro, nem a preguiça que se passeia nas praias, destrói a couraça. Os domingos entricheirados no medo de uma noite solitária, os domingos na fronteira das semanas, medindo a resistência ao trabalho, os domingos decepando o ócio lento que nos consome por dentro. Há um assomo, porém, de redenção. Passar os olhos pelos discos, procurar, escolher, e colocar. Hoje foi assim, de manhã. O dia tornou-se mais leve.