A importância do espaço deixado vazio
entre os dias é relativa.
Julgo acreditar que estes momentos podem ser
meticulosamente preenchidos, e não falo
dos gestos que nos são familiares, falo
de movimentos excepcionais, como os dos gatos
que desafiam o céu sobre os telhados.
Tu vens ter comigo e inventas distâncias
entre nós e o medo. É isso que mais gosto em ti,
isso e o modo insidioso como a tua pele se distende,
voluntariosa, ao contacto dos meus olhos.
Disse a alguém, em tempos, que eu haveria de encontrar
outro mapa onde os nossos passos se cruzassem,
ainda que tu um dia decidisses escrever uma mensagem dizendo:
"Apago o eco da minha voz na tua."
Não me posso comprometer, mas sei que sim,
que os tentáculos do tempo se recolhem quando os
teus dedos se perdem em extensões de carne que
eu desconhecia ter. Quando emergimos
da planície inundada pelas águas, ruínas
se erguem na noite. Mas no meio de nós o fogo vive.