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Director's Cut Vintage #1


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Blade Runner-Perigo Iminente



Obra seminal do género FC, obra de culto sem alcançar o estatuto de obra-prima, marco na carreira de um realizador que raramente se elevou acima da mediania, Ridley Scott, filme que de certeza perdurará na mente de uma geração, Blade Runner. Nunca o vi no grande ecrã, mas recordo as inúmeras vezes que a RTP o passou nos anos oitenta, e o modo como a minha percepção se foi alterando, descobrindo em cada visionamento coisas que não estavam lá antes, condição sine qua non para a atribuição de uma aura de culto. História de enigmas e perguntas sem resposta, obra aberta, sujeita a constantes questionamentos e perplexidades, filme de múltiplos caminhos, exponenciados pelo Director's Cut final de Scott, que muito habilmente finge dar os nós às pontas soltas do filme apenas para mostrar novas portas, possibilidades infinitas que acabam por dar o papel final ao espectador, mostrando as cartas que ele tem para jogar. A grande questão é: será Deckard um replicante, um andróide que julga ser humano? E sendo-o, saberá que o é, a derradeira surpresa do filme? Chamemos a este filme aquilo que quisermos, não nos limitemos à redutora definição que dei acima. É um drama metafísico, em que os andróides sofrem com a consciência de uma finitude próxima (é óbvia a semelhança com os humanos, mas chegará para os tornar humanos?), é um film noir, estilizado e com estilo, apurado ao pormenor, modelo para muito do que se fez depois, com os seus décors opulentos imitando um futuro decadente e polarizado entre um submundo negro e feio e um conjunto de corporações e multinacionais que produzem tecnologia para uma população rica que nunca chegamos a conhecer - com a excepção do criador dos replicantes, Tyrell (Joe Turkel) -, é uma distopia que se afasta do modelo de Metropolis, de Fritz Lang, ou de livros como 1984 ou Admirável Mundo Novo, cuidando de forma mais vincada o aspecto visual, que serve na perfeição uma história imaginada por Philip K. Dick, repleta de implicações filosóficas e morais, apesar da amoralidade que emana da película. Envolvendo tudo, a música de Vangelis, majestosa na sequência inicial, - a panorâmica geral de Los Angeles de 2018 que se vai aproximando até vermos mais de perto o lixo que ali se move, - e diga-se de passagem que não é compositor que eu aprecie por aí além (para não dizer que é intragável).
Uma conclusão apenas para me questionar sobre o estranho percurso de Ridley Scott, que começou em 1978 realizando o melhor dos Aliens, o primeiro, e depois se perdeu nos anos 90, ressurgindo em 2000 com o épico Gladiador, ponto de partida para uma série de filmes lucrativos que desembocam numa obra sobre as Cruzadas que agora se estreou, Reino dos Céus. Haverá pontos em comum, nomeadamento o rigor formal e o tratamento plástico que décors e filme sofrem, mas o génio de Blade Runner brilha palidamente no veículo para Russell Crowe que foi o Gladiador ou no execrável e nacionalista Black Hawk Dawn, por exemplo. Será o material de origem, a história de Philip Dick, o instigador de tudo o que de bom tem este filme?


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