Tudo o que vale a pena não está aqui.



Director's Cut #5


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Rui de Brito, realizador de videoclips de músicos nacionais, conta uma pequena história que poderá ser sintomática do estado do cinema em Portugal. Quando lhe perguntaram, no âmbito da entrevista de entrada no conservatório, qual era o filme da sua vida, ele, de modo "pouco correcto", respondeu "Guerra das Estrelas". Diz ele que utilizou a estratégia errada. Ora, nem mais. Pecado capital é, em Portugal, afirmar uma monstruosidade destas. Se fosse um Hitchcock, um John Ford ou mesmo um Sergio Leone, enfim, aceitava-se. Ideal seria mesmo falar de Bergman, Dreyer ou Godard. Mas a "Guerra das Estrelas", do produtor de blockbusters George Lucas?! O que se tem em troca desta visão comercial do cinema? Neste país, uma carreira obscura no mundo da televisão, no mínimo. (Ou então nem isso). É o que dá gostar-se de cinema americano no país de Manuel de Oliveira e João César Monteiro, o país onde o cinema é uma espécie de panela onde todos tentam enfiar a colher, à cata de uma migalha do orçamento, e se possível que essa migalha dê para o filme e para os gastos domésticos dos próximos cinco anos sem produzir obra-prima que se veja. É que fixar a câmara e esperar que um golpe de génio aconteça pode não ser suficiente, é raro encontrarmos um realizador com o brilhantismo distorcido de João César Monteiro ou a sabedoria de Manuel de Oliveira. Cinquenta anos depois da "Nouvelle Vague", ainda há gente que não aprendeu a lição dos jovens lobos da altura. Truffaut, Resnais, Godard e c.ª impuseram um novo conceito de cinema destronando o que existia na altura, os mastodônticos filmes franceses da época clássica. Mas, e é aqui que eu quero chegar, com os olhos postos do outro lado do Atlântico, em Hollywood. A recuperação de nomes como Hitchcock, Hawks, Ford, foi fundamental para a revolução que a geração dos Cahiers du Cinéma provocou no cinema europeu. E aqui, em Portugal, o que se passa? Continua-se a venerar esta geração que agora ultrapassou os oitenta anos de idade, e com isso vamos perdendo a vitalidade, a modernidade que se respira no panorama actual. Lembro, assim de memória, o cinema argentino, que sem subsídios do estado produziu obras como "O Pântano" e a "Rapariga Santa", ambos de Lucrecia Martel, o cinema brasileiro, que surpreendeu com "A Cidade de Deus", ou o México, que recentemente exportou dois realizadores, Alfonso Cuáron ("E a Tua Mãe Também") e Alejandro Gonzaléz Iñarritú ("Amor Cão" e "21 Gramas"), para além de um excelente argumentista, companheiro de criação de Iñarritú, Guillermo Arriaga. Sem falar da exportação espanhola (com passagem pelo Chile), Alejandro Aménabar, um dos realizadores mais estimulantes dos últimos 5 anos. Mas nós por cá, tudo bem. O que temos para mostrar? A mesma auto-contemplação transformando-se em complacência, o cinema umbiguista, provinciano e profundamente reaccionário, seguidor de um modelo com décadas. Repetindo os mesmo erros de sempre, principalmente a nível técnico. Para quando um filme português sem problemas de captação de som, com um ritmo narrativo que ultrapasse o mínimo suportável, sem as irritantes elipses que não são, de modo nenhum, marca de estilo; são antes exemplo de incompetência na montagem. Para que eu pare de dizer, sempre que o assunto é cinema, que de cada vez que vou ver um filme português, apanho uma decepção. Para quando?


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