Tudo o que vale a pena não está aqui.



Diário antigo (1)


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O que foge do lado de fora da janela, a noite regressa de um tempo em que era natural arrastar pelas ruas cadáveres de cães abatidos por engano em caçadas; ainda nos dentes traziam presas lebres de olhos muito abertos e sangue pintando um traço nítido tão nítido como as fotografias que amareleciam sobre as cómodas da casa velha - casa velha - mãos acompanhando o movimento dos carros na rua, aos repelões, aproxima-se uma língua de vento dos muros, atrás de si volteiam cintilações de areia, eles olham, e eu olho, e descubro que olhando apago os vestígios dos corpos na rua, é como se usando os olhos como estiletes escrevesse no alcatrão um rio brilhante sem marcas de sangue, água apenas, água apenas. Os olhos dos mortos clamam desde o abismo do tempo, muito empertigados, pose encenada para o disparo do fotógrafo, a moldura cinge o espaço, e é como se nesse espaço de fora chovesse, fora da janela onde a noite repercute um silêncio de cera, móvel e fulgurante. Andava às voltas no passeio, para a frente e para trás, às voltas, frente e verso, rodopiando até que o sentido do movimento fosse apenas incerteza do acontecimento, o que antes esteve e o que a seguir estará, os cães arrastam lebres e depositam-nas aos pés dos homens, noite ainda ardendo por sobre as casas, dentes brancos rogando atenção, um osso cinzento.

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