Tudo o que vale a pena não está aqui.



O medo de dizer (3)


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A sensação que temos é que isto não pode descer mais, mas acaba sempre por bater mais no fundo. O político carreirista, umbiguista, mergulhado no vazio das ideias, esbraceja, simula sorrisos, mente com todos os dentes no prime-time das TV's, e mais, vai deixando uma horda de herdeiros que são ainda piores que o original. Os gémeos Dupont e Dupond atiram lama um contra o outro, prometem coisas vagas, e tentam ficar bem na fotografia, sempre. Encarnam o português no seu pior, em todo o esplendor. O líder, antes eleito pelas suas qualidades, é agora escolhido por cada vez menos eleitores, e sempre em função do mal menor. É o que estamos a assistir nesta campanha. O rosto é diferente, mas ninguém na verdade espera uma mudança radical no destino do país. Vivemos num sistema político que favorece o bipartidarismo, mas parece que isso é pouco; vamos lá propor um novo sistema que beneficie o partido mais votado, com vista à obtenção de maioria absoluta. O monolitismo de ideias, o pensamento único, é isso que se tem de favorecer. Um centro largo onde cabem muitos boys, sempre nadando em busca do tacho, que têm como última das suas preocupações o bem-estar daqueles que os elegem. O ideal seria impedir o acesso ao parlamento dos partidos mais pequenos, como, aliás, já acontece, pelo menos em parte. Até o PR entra nesta corrida contra a democracia. Tiro ao lado, uma vez mais. O que seria de reforçar era a presença dos partidos mais pequenos no governo, como é regra em muitos países do Norte da Europa. Mas o português tem medo de mudar. Os dois políticos mais brilhantes da sua geração, nos dois extremos do espectro político, são esmagados pelo rolo compressor do centrão, inapelavelmente. Porque o português é conservador, não arrisca. Prefere ficar em casa a lamentar os políticos que temos em vez de usar um dos poucos poderes que ainda possui, o poder de voto. Estamos condenados a uma penosa travessia do deserto, e começam a escassear as pessoas e as ideias para dar volta ao estado de coisas. O livro de José Gil pode ser importante neste ponto, e talvez não seja má ideia torná-lo leitura obrigatória no ensino secundário, como já li num blogue. Partirá de nós apenas esta vontade de transformar o país onde vivemos, como sempre. Por isso, não podemos esperar que os políticos façam tudo. Precisamos de encontrar e eliminar aquilo que nos tolhe. É isso que é feito na obra de José Gil.
(Continua)


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