Tudo o que vale a pena não está aqui.



Achados e Perdidos #15


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Há uma certa inclinação masoquista, autofágica, na atitude de alguns políticos do nosso burgo, facto mais evidente ainda se partindo de personagem com mérito, intelectual ou outro. Veja-se, por exemplo, o caso que por aí se comenta do filósofo político, partenaire de estrela de televisão e narciso facção zezé camarinha-chique, lá dos lados do CCB. Não é de agora, pois não. Parece que em tempos esta mítica figura já fora alvo de uma manifestação pública de afecto (vulgo, bajulação) sem pudor nem freios, por parte de uma porção da nossa elite intelectual esquerdista bem-pensante, com o famoso Coelho filho do outro à cabeça. E acaba por ser enternecedor, o modo como agora vemos este paladino da cultura portuguesa defender com unhas e dentes, crónica diária sim crónica diária não, o seu patrono de outrora. Favores com favores se pagam, é bom de ver. O que me sorri por dentro ao ler ontem o texto em defesa da honra do ex-ministro futuro presidente da câmara (queira Deus que não) alinhavado à pressa por EPC depois de ter sido achincalhado em público (mas devagarinho, porque afinal...) por Ana Sá Lopes no jornal onde os dois coabitam. Gosto dela, confesso, e adorei a peça pseudo-jornalística que inventou para cobrir o simulacro de acontecimento que foi o lançamento da candidatura à câmara de Manuel Carrilho. Concordo com este último, portanto, é o que estou a dizer. Explicando: ontem, no Público, Carrilho dispara indignação, cospe veneno contra o jornal que ele diz que o persegue desde há muito. Admirável, admirável mesmo ver como um professor catedrático se arma (ou armadilha) com argumentos dignos de um Santana Lopes, por exemplo, sacando do famoso "se os outros fazem" ou "no estrangeiro é normal acontecer" ou ainda, o subentendido "eu preciso de ganhar esta porcaria, por isso vale tudo". Ora, era precisamente aqui que eu queria chegar; vale tudo, tornar-se político é isto, abdicar do orgulho, da dignidade, do respeito do mundo académico granjeado ao longo dos tempos, tornar o privado público arrastando na jogada quem não pode ainda ter voto na matéria, de uma forma verdadeiramente pornográfica. Carrilho tem razão na sua irracionalidade, no seu despir de máscara público: Ana Sá Lopes de facto não fez jornalismo. E ainda bem. Comprendo o porquê disto. Ver alguém do nosso grupo (leia-se quadrante político) tornar-se aquilo que mais odiamos no outro grupo (as direitas) é doloroso. A humilhação pública, ou o regresso à estratégia Evita, como lhe chama ASL, está aí para ficar. É este o país que continuamos a ter.


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