Marylin
Não querendo sair da linha dos posts anteriores, recordo Marylin. Também porque a encontrei por acaso (e não é sempre?) no
Bombyx Mori. Durante muito tempo, Marylin para mim foi um estereótipo, o sex symbol, a actriz pouco dotada, a falsa loura burra promovida à categoria de mito do cinema. É claro que nessa altura não tinha ainda lido os textos de Bénard da Costa nem o poema de Ruy Belo:
Morreu a mulher mais bela do mundo
Tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marylin dizer mulher.
Também não conhecia as fotografias mais intimistas de Marylin, o seu período com Arthur Miller. Mas mesmo quando conheci, duvidei. Achava que Arthur Miller fora o homem mais sortudo do mundo. Porque era intelectual, um escritor, imaginem, e conseguira ser amado pela mulher mais bela. Leio Bénard da Costa e reparo que ele pouco fala de cinema ao falar de Marylin. Ou melhor, fala muito de cinema, mas pouco fala da Marylin actriz. Se Brando e Dean impressionaram também pela revolução no modo de representar, Marylin tornou-se um mito por ser uma estrela de cinema, primeiro, e depois a imagem que a América dos anos 50 queria ter de si. Um modelo para as mulheres, a personificação de um desejo claro para os homens. Sex symbol, sim, apesar de ser mulher. Os seus dotes de actriz eram por certo limitados, e por isso filme atrás de filme ela faz sempre a mesma personagem, a loura meio ingénua, ignorante do poder que tem sobre os homens, que acaba por conseguir acabar sempre com o herói da fita. Apenas a mão perversa de Billy Wilder consegue subverter o guião e atribuir-lhe mais do que apenas ingenuidade, no fabuloso Some Like It Hot. O que comoveu em Marylin terá sido o destino trágico que se adivinha num rosto tão belo. Destrinço o nó: por momentos, consigo detectar na perfeição uma imperceptível falha. Porque sei que Marylin desapareceu mesmo a tempo de se tornar um mito; como Dean, saltou da vida para a imortalidade, não permitiu que o tempo roubasse o papel que lhe estava destinado.