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O sopro do vento


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Talvez,
apenas isto: um istmo, uma língua de terra,
que une a cidade ao mar, onde crescem canas.

Ou antes:
a mão sombria das chaminés vigiando as crianças
brincando no areal - as cloacas das fábricas
como marca do horizonte, vestígio demoníaco
que se espalha pelo corpo das crianças.

A noite parece ter parado;
era um comboio que avançava pelo silêncio da praia,
confundindo as aves de rapina; uma coruja,
cega pelo som da locomotiva, estilhaçou
o vidro da única casa que não foi deitada abaixo.

O litoral, resíduo de um passado que o comboio transporta,
é um vómito de cimento e cinzento, e nem a fuligem das fábricas
é poupada aos novos tempos.

Mas, que paisagem é esta?
Em que areia os pés das crianças correm,
que vento se intromete na dança lenta dos canaviais,
que ribombar surdo soa na península onde as corujas caçam?

Não é a minha história que conto; são imagens de outros,
mistérios rebocados por um doentio impulso
que me leva ler versos antigos, deitá-los num cadinho
e esperar que dali nasça uma distinta pintura.

A tal ponto que não sei que outro istmo é este,
que palavras serão minhas;
uma língua de sol tocando a terra, um mar
para encher de imagens novas.
Papel branco.
Coração tão negro.

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