Detecto a respiração.
Uma forma oculta no corpo,
assinalando o estertor e a vibração.
A linha horizontal,
eu deitado nela,
lembrando na escuridão
as nódoas que os teus dedos
deixaram no tecido carnal.
- Amanhã entrarei no lado errado
da emboscada esperando que a deflagração
arranque a memória do teu movimento -
Entre o selo que encerra a poeira
no lençol
e a boca mastigando o papel
onde o poema foi escrito -
traço descontínuo apartando o sal
da pele e a luz do nervo.
Depois, vens; e o tempo
torna-se uma jogada de antecipação;
a verdade é um ano sem ciclos,
círculos e estações, um ano de animais
esperando que a raiz da macieira
derreta o gelo e deus floresça.
Somos dois, e um sopro baixo: conceito
emergindo dos escombros do poema,
expirar e inspirar, um vento que percorre
os túneis escavados pelos vermes no caroço
dos ossos, os túneis que a lava constrói
no mármore de Herculano.
O mar - vulcão adormecido, depósito de cinza,
uma língua seca no deserto, o regresso
de uma imagem, extinção.
Amo-te do fundo da ruína, a velha canção.
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