O trabalho dos dias
Arquivado quinta-feira, junho 19, 2008 por Sérgio Lavos | E-mail this post
Molhámos, na fonte das lágrimas onde nunca pus os pés,
As mãos, os olhos, a verdade, e as trevas,As roupas velhas e o rosto gasto pelas marés,Palavras que pedimos ao balcão da vida,Possibilidades infindas na viagem que nos espera,Cavalos que esperam ser domados, folhas quentesRepousando no fundo da chávena. O futuro –Onde a água perde a sua cor, o desejo atraiçoa-nos.Era uma vez em Março, e ainda fazia frio.O rumor dos passos envolvendo em braços brevesA voz dos pássaros e a canção que a fonte desfiava.O fio dos salgueiros sobre o rio e o seu canto abatido,O cheiro do lodo - na pele que assentava na pele, Atiçava a vontade de morder, peito aberto.Quando o frio abandonava os campos as mãos perdiam oSeu rumo. Inútil procurar, pensávamos, outro amorQue não possuísse a instabilidade do rio, sua incerteza.Uma vez mais entramos na orla das árvores.Esqueço o que vejo, a magra memória das imagens.O súbito esquecimento,O furor dos dias que assola o mundo noutro mundo.Agora não estou já contigo, e o eco dos nossos passosDeixou de soar na paisagem aberta.Trago fotografias que espero deitar fora.Não as queria trazer, porque Março irá passar;A meu lado, o espaçoEm branco do teu corpo, a palavra riscada do caderno.Etiquetas: Poemas