Tudo o que vale a pena não está aqui.



Metaficção


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Falta uma hora para o jogo - menos alguns minutos.

Se soubesse como é difícil entrar na casa - deixar à porta
o sentido,
a oportunidade de silenciar o andamento menos que musical das palavras,
o deserto.

Tudo entra, atrás, cortejo balanceado de ternura e despojamento;
mas não me enganam. Os olhos dos que me observam,
do fundo da sua pomposa gramática textual, são o alvo
que procuro quando a minha mão toca no espelho da entrada.
Rosto ao alto, triste e debruçado no abismo entre os dedos, uma sombra
na moldura que enquadra os vestígios de uma família extinta - a luz amarela
dos retratos cumprindo o período de esquecimento a que alguém tem direito.

Sobreviver, reocupar os quartos desabitados, encher de malas por abrir
o vazio que me estende um anel de fogo desde a infância,
ouvir o clique dos interruptores esperando mais do que uma resposta surda -
a luz.

Os que me observam, perdido nas trevas de um poema em ruínas -
Eliot sentado no sofá, Pessoa rodeado de fantasmas,
Al Berto debruçado sobre néons, fiapos de asas pairando no crepúsculo - um filme
ardendo na sala vazia.

Quarenta e cinco minutos para o jogo - o poema, morto ou vivo,
retira-se de casa. E eu fico.

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