Apóstatas e apóstrofes, mimados e bem combinados,
as saladas do costume pedidas à rapariga de olhos azuis
e colo audacioso, conversas derreadas sob o peso da conveniência,
o jornal diário, uma, o resultado do clube, duas, aproximados
os assuntos a descartar avançamos para a verdura
de olhos bem abertos e colocamos na mesa
a frustração e a amargura, pintadas
de dourado e uma pitada de comiseração à mistura,
nem sempre a ostentação obriga ao luxo;

a gramática é um poço sem fundo,
a oratória mingua-se no fio da conversa,
a boca cheia de repelões e maus-tratos,
acusar o outro do trabalho e olhar para os remendos
nas calças recusando ver a pele que por baixo espreita,
um gráfico de vendas quebrado pelo desrespeito dos mercados,
mais uma aposta furada em acções de pouca dura,
escolhidas em desfavor de outras acções menos boas
que podiam fazer durar mais do que uma vida extenuada;

a urgência do tempo acelera o constrangimento;
as combinações que se fazem para a ocupação dos dias
são modos de adiar a morte, minuciosas composições,
prelúdios para uma razoável fuga, movimento
cortado pelos acidentes na paisagem, feridas,
aditamentos ao contrato estabelecido com o pavoroso
senhorio a quem não se acena na rua,
esta é a promessa da melancolia nocturna,
figuras de estilo que demarcam um território na casa.

Quando não, tudo de regresso, submetemos a
alegria caótica da liberdade à ordem burocrática da felicidade;
assim está escrito nos livros: a razão,
sem ironias, a razão, revólver colocado sobre o coração,
a razão, que nos aponta aos olhos o brilho de uma luz cega,
e que nos leva pelos dias de mão dada, a verdade
de um lado e a justiça de outro, nossos companheiros
para a eternidade, tábua de mandamentos regimentados
às ordens de um deus silencioso, tenebroso.

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