Tudo o que vale a pena não está aqui.



Posologia


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À existência não dedicaram eles uma entrada do DSM – IV -
um erro gravíssimo;
o assunto é discutido com pinças
à mesa do café; os outros é que têm problemas,
desequilíbrios, infâncias de que não recuperaram
como se recupera do sarampo; os outros é
que se deixam cair na vida.
E esta não é aquilo, pensas: não é permitido
a quem sofre aproveitar o verão e o enriquecimento vitamínico,
não lhes é permitido abandonar-se ao enlevo das crianças no jardim
nem entregar o corpo ao suplício do exercício físico;
é tudo demasiado penoso; quem sofre tem de o fazer
fechado em casa, ou exilado no prazer de um fármaco bem doseado,
distribuir frustrações e segundos pensamentos pelas horas,
a correcta homeopatia da vulgaridade quotidiana.
Ou então ceder a passagem no corredor vazio
ao desespero – e este continua a ser, passado tento tempo,
um familiar que regressa para nos estragar o domingo.

Talvez a ausência de literatura inclusa justifique
a incerteza: depois de tornarmos a doença dos outros
objecto de afeição ou de repulsa (tanto faz), continuaremos a ocupar
as horas desordenadamente - ritmos circadianos
cadenciados, passatempos para elevar o espírito,
objectivos, objectivos, decisões difíceis que o banho não ajuda a tomar,
raiva moída entre dentes como folha de tabaco, mascar
e cuspir, mascar e cuspir, sair de casa sem guarda-chuva
que proteja dos canivetes que sem dúvida irão retalhar
a ilusão ao meio, um peixe expondo as entranhas – agora,
que os videntes já não conseguem ver o futuro nelas,
e quando vêem ele é como um televisor antigo,
repleto de estática e de erradas sintonias;

Nunca mais será tarde, se as portas do gabinete branco
se mantiverem abertas – a mancha no canto da parede
será apenas humidade infiltrando-se no reboco
e não um qualquer sinal inútil ou o fio limpo
da lâmina apontando para o lugar que te pertence –
o lençol imundo que as aranhas resgatam do sonho que
julgas simbólico.

Aqui estão os comprimidos para a vida: os dedos resgatando
a luz que deles se levanta;
acaba de apagar o amor, as letras que se recusam a acender
no breu do quarto o que julgarias ser a última esperança.

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