Tudo o que vale a pena não está aqui.



Canto


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Ele era o mais rigoroso fetichista;
Publicou vários livros de poesia, e em cada livro o valor
das palavras variava de acordo com a voz de quem as dizia.
Um sentido que não fosse necessário,
ou uma verdade que não precisasse de ser verificada -
indicações métricas que conduziam o dedo
a um território despovoado.
Uma terra de sons e remissões sem destinatário,
receitas infalíveis para a amargura.

Ele respeitava a tempestade da poesia;
os golpes que ela desferia na sua credibilidade,
o resumo simplificado de uma identidade
perdida; detonar um poema era um problema
de entoação, de uma terna inclinação para a maldade -
as velhas debruavam segredos pela tarde fora.
O movimento da deflagração corria do centro
para a margem, até que nada restasse na tarde,
no poema, das velhas serenando o desassossego da espera.

Ele podia ser um vestígio de uma viagem;
nenhum vento o empurrava para o calor da alcova;
a madrugada, mãe de todo o silêncio, acolhia o seu corpo
sem voz num gesto de desprendimento; e
julgava adormecer liberto de um peso de outra idade;
os sons que repetia, como se viessem de tempos antigos,
eram sons de uma tribo extinta, distantes da familiaridade
forçada de um quarto, eram uma ideia de som, propagando-se
na extensa planície; um rumor distante de búfalos, a promessa da carne.

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