Tudo o que vale a pena não está aqui.



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Como entrar numa rua errada: segue um impulso que te diz a verdade, mesmo que não consigas reconhecê-la. Uma rua errada é como uma meia verdade que fica abrigada na sombra. À espera que passe para saltar à frente, gritando a plenos pulmões uma frase sem importância. Mas acreditas. E nisto, sacas do seu revólver para abater essa meia verdade. Mas ela é como uma mulher bela que viste uma vez e não chegaste a conhecer; ficas sempre sem saber o que poderias conhecer dessa mulher. Essa é a rua, feminina e sombria, uma verdade que se fica pela metade, metade do conhecimento e metade da verdade, uma ínfima parte daquilo a que se pode aceder. A rua é assim: perde-se de vista o fim, um nevoeiro espesso cai sobre o próximo cruzamento, candeeiros soltam uma luz estrangulada pela noite. Um rumor de passos; longe, pensas, mas quase perto, na curva daquele prédio em ruínas, no covil que se formou no vão da escada daquele prédio em ruínas. A rua é assim: o nevoeiro, em volutas, trepa pelas janelas e entra contigo no vão de escada destruído; segue os seus passos, o ranger dos sapatos na carcoma, mãos apoiadas no reboco que se desfaz, caindo por entre as frinchas até esmagar os insectos que rastejam no andar de baixo. Assim, um, dois, três andares, e uma almofada negra debate-se nos olhos; tudo cai de si, deixando um vazio impenetrável, e um pé escorrega, e outro pé quebra o soalho, o tacão enterra-se na madeira, insectos que palpitam no escuro, a queda, um dois, três andares, o vão de escada na rua é a verdade que seguiu para chegar aqui: uma luminosa manhã de outono, a caminho da primeira escola da tua vida.

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