Tambor, tambor, tamborilo os dedos na mesa, o pai olha para mim, a mãe olha para mim, toco com o dedo direito no prato, espreito a televisão e ziguezagueio entre cortina adejando e olhar vazio do pai, a mão, o copo e a água entornada que se aproxima do limite da mesa, o copo e a mãe cruzando os braços, empurrando a mesa, apoiando-se no limite o peso, clump, a minha mão sai do meu controlo e enfia-se dentro das calças, a mãe respira tão pesada como o seu corpo, um êmbolo reproduzindo a vida de uma fábrica, tambor, ao fundo, um homem empurra a porta e pede a todos que o ouçam, puxa uma cadeira e encaixa o queixo na concha das mãos e diz e a mãe ouve-o e o pai ouve-o e eu resisto, a minha mão mineral por dentro das calças, e o homem conta e os seus dentes são uma roda dentada esmagando os insectos de um piquenique de há muitos anos, quando a minha cadeira ainda não estava vazia e o pai e a mãe e a mão eram felizes e eu podia dar livre curso às minhas explorações por dentro das calças.
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