Arquivo Fantasma
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Tambor, tambor, tamborilo os dedos na mesa, o pai olha para mim, a mãe olha para mim, toco com o dedo direito no prato, espreito a televisão e ziguezagueio entre cortina adejando e olhar vazio do pai, a mão, o copo e a água entornada que se aproxima do limite da mesa, o copo e a mãe cruzando os braços, empurrando a mesa, apoiando-se no limite o peso, clump, a minha mão sai do meu controlo e enfia-se dentro das calças, a mãe respira tão pesada como o seu corpo, um êmbolo reproduzindo a vida de uma fábrica, tambor, ao fundo, um homem empurra a porta e pede a todos que o ouçam, puxa uma cadeira e encaixa o queixo na concha das mãos e diz e a mãe ouve-o e o pai ouve-o e eu resisto, a minha mão mineral por dentro das calças, e o homem conta e os seus dentes são uma roda dentada esmagando os insectos de um piquenique de há muitos anos, quando a minha cadeira ainda não estava vazia e o pai e a mãe e a mão eram felizes e eu podia dar livre curso às minhas explorações por dentro das calças.
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Etiquetas: Contos
Sobre o caso, apenas posso dizer uma coisa, meretíssimo: o que eu achei estranho, estranho mesmo, foi o que se seguiu a eu ter descoberto a casa vazia. Quer dizer, um homem recebe um prémio tão importante como este, combina uma hora para o receber, está à espera de uns jornalistas que eu prometi levar, eu toco à campainha uma, duas, três vezes, ninguém atende. Bato ao de leve na porta, ela abre-se, eu entro, peço aos jornalistas para esperar e deparo com a situação, o cheiro a pólvora, a janela aberta, o gás a encher a casa com o seu fedor, a corda dependurada do tecto, os comprimidos sobre a mesa, a adaga japonesa na cama e o artista, caramba, não está lá. Procuro em todas as divisões, espreito pela janela, nada. Mas a verdade é que o estranho, e ao mesmo tempo o que fez todo o sentido, foi a música que tocava: How to Disappear Completely. O mágico tinha conseguido escapar à morte, parece-me, e naquele momento, por Deus, tive a certeza de que nunca mais ninguém o veria. Por isso voltei para os jornalistas e inventei a história que inventei. Como se poderia justificar tal coisa?
Etiquetas: Contos