Tudo o que vale a pena não está aqui.



O presente


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Duas horas passadas, o tempo deixou de me doer. Três horas, e ele deixa de existir, não só em mim, como, acredito, no resto de mim, naquilo que não controlo. Quatro horas, e as minhas mãos estão tão frias, os pés tão frios; mas o que mais arrefeceu foi a alma, ali guardada a um canto do frigorífico de onde retiro alguma coisa para comer antes de ir dormir. 
Algumas horas mais e uma réstia de insónia persiste em me arrefecer, até que num lampejo vazio, limpo de escaras, me deixo adormecer, e levo o tempo comigo; durante os sonhos, apenas o presente existe.

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