Tudo o que vale a pena não está aqui.



Um verão


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Somos o dia por onde movemos
as mãos, a caminho de uma foz
uma estação, a última,
o comboio pára e o movimento não se
detém no fim da linha, outra carruagem
que nos espera e nos há-de levar à praia
tão cheia de gente burguesinha

e nós – oh, nós, tão burgueses,
submetemos a vida a uma precisão geral,
anafada, e percorremos o caminho
em direcção ao areal – pensamos no
filme onde imaginámos ver, a morte sobre a areia,
a morte comendo a juventude,
verme nojento a que demos uma casa,
a nossa casa, e o seu gume,
quando descemos ao longo de um fim de verão,
brinca com a paciência, testa-nos
a coragem e sobretudo a capacidade de submissão
à sua certeza e decisão.

Quietos, parados, lentos e dourados pelo sol,
contamos mentiras e regulamos a acidez que tempera
frases, nem de mais, nem de menos, medida certa,
como a daquela rapariga que se deita ao nosso lado
pedindo um pouco menos do que amor,
numa desfaçatez existencial desarmante -
o valor não é absoluto e de que valem os discursos
metafísicos perto da régua pura que mede
aqueles pulsos, braços,
quadrante das pernas, corte fundo no biquíni,
tapando a nudez de revista – e assim fica.

As regras estão escritas, e cada gesto novo
Repete o modo antigo, mas;

não será uma derrota assim tão grande
conhecer de coração as praias de infância,
a extensão de areia e os caniçais,
entrando lânguidos dentro da
mata nacional, a radiosa violência da urze,
a pele das pernas finas rasgada pelas giestas,
ao longe o mar, ao longe o mar,
o banho da tarde,
a água entre o regresso e a ameaça,
útero e morte, versos da mesma canção.

Não discordar, nunca discordar, dos que dizem
que desistimos – a idade adulta e os filhos
que ela nos oferece é o que de mais próximo teremos
da absolvição da felicidade; um testamento
que deixamos à próxima geração,
os nossos anos burgueses, bem gozados,
sereno simulacro de um verão.

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