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A torre (2º desvio)


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A romaria levava ao ponto
que concentra a força da cidade, e fomos
seguindo nela, água sem vontade,
afluentes em direcção a um rio mais importante.
Lojas desfilavam
alinhadas, e depois a rigorosa e decadente
geometria de um jardim francês serviu para sinalizar
a confluência. Uma mulher romena
(saída do filme de Haneke)
insistiu em ser salva naquele momento,
e se a torre não tivesse surgido,
como um fantasma na nossa linha de vista,
o postal não seria tão perfeito.
O perfil da mulher, o rosto curtido
pelo sol e pela renúncia,
recortava-se na moldura metálica,
em primeiro plano contra um fundo reluzente
de beleza moderna, potência erótica
de um povo a caminho de perder tudo.
Chamava por nós, e apenas poderíamos recusar
a verdade ou achar que tudo não passa de fingimento,
encenação - e lá fomos,
aproximados um pouco mais da perdição.

E a perdição é uma estrutura divina,
equilíbrio nascendo da deformidade.
A torre é um anão que se ergue sobre a cidade,
a distrai, um bobo de uma corte extinta e amaldiçoada.

Rente ao chão, é um falo que comunica com Deus,
e quando subimos ao céu, a cidade esvazia-se,
abdica da sua grandiosidade, é uma superfície
quase plana, alguns acidentes geológicos,
movimento em ponto pequeno, formigueiro.

Ainda fomos a tempo de acreditar um pouco mais no progresso:
como num filme de Tati, africanos de pele mais ou menos escura
jogavam às escondidas com os gendarmes, fugindo e regressando para
vender aos turistas souvenires ao dobro do preço.
O movimento agora próximo ganhava corpo e sentido;
enquanto os clowns conseguirem
fugir da polícia, acreditemos.

Deus vigia as suas ovelhas.

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