Não sou um homem melhor não porque
não consiga ser um homem melhor,
mas porque se fosse um melhor homem
não seria o homem que sou.
O que sou não incendeia o mundo nem inventa
prodígios, artifícios, não diz quantas vezes o número secreto
se repete na geometria privada de Deus,
não sabe qual a força necessária para equilibrar uma casa
nem a palavra certa para dizer quando o filho chora.
Sei muito pouco – e isto é dizer muito.
Mas porque escrevo (e não danço)
lanço no mundo o vazio e basta isso
para ser um pouco pior do que um homem,
um homem cuja amargura a cada dia estrangula;
Deixo que o vazio apague os erros,
a divina providência, a indecisão e a fraqueza
de recear pela vida do filho que por vezes ainda
carrego nos braços.
O vazio (com orgulho)
no lugar do homem -
tudo se recoloca, uma nova perspectiva,
outra luz, a sua relativa importância,
quase nada,
nada.
Melhor do que uma desculpa,
aceitar tudo o que poderia ser -
uma ilusão.
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