Tudo o que vale a pena não está aqui.



Outono escaldante


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O poeta em fuga:
estava escrito e por isso era simples, estava escrito
na claquete por cima de um nome negro - deve-se
levar sempre a sério uma boa história.

O poeta obedece aos desígnios do realizador:
agora move-te, agora pára; agora fala. E o poeta foge,
não quer falar, escrever é nada,
mais do que isto é o amor,
animal de quatro patas, vigilante,
que antecipa no escuro do quarto o movimento
certo para atacar.

Corta!
Agora;
o silêncio que se ouve será mais tarde
preenchido pela trilha sonora,
e o poeta (e a sua inconclusiva amante)
dança no fio que liga os dois tempos,
o antes e o depois da filmagem,
a cena do crime,
atirar a matar sobre os corpos
a que o escritor - longínquo êmulo do poeta -
decidiu entregar-se, reconhecer o mundo.

Recomeça tudo,
e a cinza do cigarro volta a cair na gola do sobretudo,
os olhos do poeta destroem
o dique de melancolia que detém o rosto da amante.

Tudo regressa ao seu curso, e ele parte
e volta e hesita, mas foge,
e arranca ao asfalto pouco menos do que o amor
ou um poema, o sangue, antes da última fuga.

Deve-se sempre levar a sério uma boa história:
e a dela era irresistível.

Corta!

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