Tudo o que vale a pena não está aqui.



Diário antigo (5)


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As criaturas falavam comigo de longe, mas ele as sentia perto. As criaturas diziam-lhe baixinho ao ouvido que eu seria o próximo homem a perder a visão, no meio de tantos. Disseram-lhe (disseram-me) que era o suficiente. Ele mexia as mãos, fingia ser. Eu admito que talvez vestisse uma camisola amarela que a mãe me oferecera no natal. Quando os automóveis pararam, eu avancei. Os outros espreitavam por buracos nos muros. Escutavam o que dizia, ou então fingiam não gostar do que ouviam. Pássaros bêbedos atiravam-se contra os cabos de alta tensão. As criaturas repetiam, repetiam, eu sorria, ele sorria. Por fora da camisola, a camisa. Um pano sujo, em tempos foi mecânico. Agora finge ser automático. Sujava as mãos com óleo. Ele espera que os automóveis parem. Para avançar. Sorrio, com um sorriso fugindo de outro, um sorriso que ameaça morrer, eu ameaço as criaturas porque elas são o seu sorriso. Recordo, hoje, agora, daqui a alguns minutos, os homens que trazem as algemas e prendem-no. É arrastado depois como um saco de detritos, transportado para um quarto onde é detonado um festim de centopeias a dançar. Carregam-me as criaturas, sou um peso morto para elas. Mas eu falo com elas. Admito que falo.

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