O esquema dos teus ossos
Não o decorei nas aulas de anatomia -
Sempre tão desnecessárias para
A aprendizagem do ofício de curar
E de encontrar para cada um a correcta substância
Contra a dor.
No gesto de reconhecer
O som do teu corpo sobre as estrelas
Intuo o volume dos teus ossos,
E peso a sua forma, insistes no entanto
Em lembrar as tais aulas em que aprendíamos
A medir o esforço que entre cada intervalo
De um encontro fazíamos para resistir
Ao impulso de correr contra as vedações eléctricas
Que delimitavam os arredores do coração, assim não dava.
Os teus ossos, pois que eles sei que um dia
Serão apenas um pouco de luz salpicada de poeira
Tardia, aquela altura em que caímos no engano de
Acreditar que um tempo não precede outro tempo
Nem pressente os passos incontornáveis
Soando na escola vazia, quando havia
Um furo no horário e aproveitávamos
Para desfrutar dos jogos do amor e do engano
Que nos livros eram sempre coisas
A evitar, espinhos no caminho aberto.
Agora, no diagrama do teu corpo
Encontro outro corpo mais antigo,
Ainda que nele persista como um clarão de fotógrafo
Outro corpo ainda a rebentar de beleza e juventude
Antes dos tempos modernos tornarem
Estas ideias apenas réplicas esbatidas
Do original clássico; um corpo de veios
E minério, campo raso de onde
Acabou de ser levantado o feno seco de sol,
Pronto a receber um arado e mãos de terra firme,
Como se de um regresso há muito adiado se tratasse.
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